terça-feira, 28 de junho de 2011

Fragmentos Naturais

Fragmentos naturais I

Jaz a tarde, o sol se vai indo
Cantarilham rolinhas em vão
Entre as nuvens vem noite pisada
Horizonte vermelho de chão

Quem há de cantar, crepuscular o entardecer
Sem que venham ao altar comparecer?

Ela vai dizer: hoje à tarde,
Foi bom tão estar à vontade

Curtindo o vento entre as pernas
Curtindo a pele ao sol
Curtindo o curtume que a velha
Fazia cantar em um tom si-bemol.


Fragmentos Naturais II

Minha mãe é o orvalho surgindo
Minha mãe, quando o sol desafina
Minha mãe, paetês que caíram
Minha mãe é égua barranqueira

Para parar de provar poesias baratas,
Cadeiras nas ruas
Para parar de voar como se à tardinha
Estivéssemos nuas

Quando ouvir um canto entardeado
Quando as palmeiras voltarem a balançar
Vai ter tropel de cavalos marchando à noite
E um mundaréu de donzelas pedindo açoite

Quiçá, se entoarmos, venham todas se banhar
Pra lá da barriguda, os pés e as coxas, se lavar.

Então virão os calangos pra dar o seu bote
E o piar de andorinhas anunciará a morte

Sem parar de arder, quando o beijo se esvair
Sem parar de comer o que a Terra mãe parir

Alê Falcão
(rabiscados em algum dia de 2010, entre vagões e plataformas de trem, sentido Luz- Rio Grande da Serra)

arquivos zumbis

recuperada do blog antigo... infelizmente a poesia/canção ainda é bem atual...

Quinze minutos na Celso Garcia
Roda nego, pula a corda
Deixa a corda te pular
Olha o carro, sai da rua
Vem logo pra favela

Passa a mão a nuca, velho
Deixa a noite carinhar
A calçada é fria, é suja.
Bem-vindo a minha casa
Gira a mente, gira o sonho
Essa pedra ta foda.
Passa logo, passa nunca
Passarinho do luar

Pára de me ver
Como um ser
Fadado a sofrer
De tentar compreender

Quanto à minha opção
Quanto é minha opção

Vende a alma à passarela
De onde o rio vai se avistar
Joga o barco flutuando
Pela espuma até o mar

A canção ciclando a idéia
O próprio rabo a devorar

O respiro te serena
O devir de outra cena
Te leva

Aonde?

Agosto de 2008