Fragmentos naturais I
Jaz a tarde, o sol se vai indo
Cantarilham rolinhas em vão
Entre as nuvens vem noite pisada
Horizonte vermelho de chão
Quem há de cantar, crepuscular o entardecer
Sem que venham ao altar comparecer?
Ela vai dizer: hoje à tarde,
Foi bom tão estar à vontade
Curtindo o vento entre as pernas
Curtindo a pele ao sol
Curtindo o curtume que a velha
Fazia cantar em um tom si-bemol.
Fragmentos Naturais II
Minha mãe é o orvalho surgindo
Minha mãe, quando o sol desafina
Minha mãe, paetês que caíram
Minha mãe é égua barranqueira
Para parar de provar poesias baratas,
Cadeiras nas ruas
Para parar de voar como se à tardinha
Estivéssemos nuas
Quando ouvir um canto entardeado
Quando as palmeiras voltarem a balançar
Vai ter tropel de cavalos marchando à noite
E um mundaréu de donzelas pedindo açoite
Quiçá, se entoarmos, venham todas se banhar
Pra lá da barriguda, os pés e as coxas, se lavar.
Então virão os calangos pra dar o seu bote
E o piar de andorinhas anunciará a morte
Sem parar de arder, quando o beijo se esvair
Sem parar de comer o que a Terra mãe parir
Alê Falcão
(rabiscados em algum dia de 2010, entre vagões e plataformas de trem, sentido Luz- Rio Grande da Serra)
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